segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Barcelona, 6 a 8 de janeiro de 2011.

O diário de hoje vai como resumo dos três últimos dias. A postagem ficou atrasada porque dia 6 terminamos muito tarde e dias 7 e 8 trabalhamos o dia inteiro para podermos ter o domingo livre, chegamos ao fim do dia muito cansados, então, lá vai um resumo dos três últimos dias do nosso encontro que, teoricamente, terminaria por aqui, mas nos parece que voltaremos a nos encontrar na próxima semana. Vejamos como segue o fluxo dos acontecimentos...
Nos últimos três dias seguimos trabalhando com as frases de movimento que criamos, jogando algumas “pautas” com elas, o que quer dizer que tínhamos uma frase de movimento-ação, que a uns apetece chamar “partitura”, a outros “seqüência”, e eu, por exemplo, chamo “frase”. Praticamos o exercício de jogar o que David e Pablo (Los Corderos) costumam chamar "pautas": regras simples e objetivas que devem ser seguidas pelos jogadores; a pauta pode ter início, meio e fim, como um jogo de improvisação teatral e suas regras e condições são sempre físicas. Em todas as “pautas” propostas tínhamos a frase de movimento que criamos juntos como material que nos colocava num território comum, uma espécie de texto que podíamos dizer em coro ou através do qual dialogar, embora tenhamos também trabalhado com a voz falada e com alguns fragmentos de textos que, no decorrer dos dias de trabalho, acabaram de algum modo se integrando.
A seqüência / partitura / coreografia foi usada como uma espécie de gramática para jogarmos em grupo.
Com a seqüência de movimento criada jogamos algumas “pautas” e durante as improvisações tocamos alguns lugares que nos pareceu interessante aprofundar um pouco mais. Assim, começamos a recriar algumas situações de improvisações sempre a partir da “pauta” e nunca a partir da situação criada. O objetivo não era repetir o que havia sido feito anteriormente, nem recuperar nenhuma situação de movimento, nem eles nem nós trabalhamos sobre o princípio da repetição. O objetivo era mesmo o de ir mais fundo em algumas situações que nos pareceram interessantes e verificar até onde podíamos ir com ela.
Do meu ponto de vista, muito particular, aqui se evidencia o problema da escritura cênica. Embora ele já esteja presente no momento em que começamos a improvisar e selecionar pequenos pontos aos quais regressar para criar uma pequena seqüência de movimento, quando precisamos voltar a alguns lugares já experimentados, aprofundar suas atmosferas, explorar suas linhas de tensão e, quem sabe, seu desenho no espaço, improvisando com outros corpos, atuamos de maneira mais evidente no exercício da escrita e, por conseguinte, na questão dramatúrgica, ainda que nós quatro tenhamos feito o árduo exercício de não colocar nossas idéias sobre o que estava acontecendo a não ser pela proposição das “pautas”.
...........
Ao final de um desses dias de trabalho sugeri a Pablo e David pensarem sobre a pergunta: “Que tipo de interesse poderia nos unir se fôssemos pensar um projeto em comum?”.
Mais uma vez apareceram dois pontos reincidentes em nossas conversas: o corpo no território "entre" e a formação neste território. Sobre o primeiro ponto o que conversamos foi que esta história do corpo entre a Dança e o Teatro não está para nós como um objetivo em si, mas como uma consequência de nossos modos de pensar e construir a cena, não é um propósito a priori. Todos nós passamos por classes de dança e teatro em nossas formações, e o que nos ficou delas foram os princípios que nos possibilitam colocar o corpo no tal estado de comunicação potente que falamos dias atrás. Então, neste sentido, não estamos preocupados em nos definir dentro de uma certa linguagem, o que para todos nós, muitas vezes, é um problema para preenchimento de ficha técnica ou solicitação de financiamento.
E quando falamos sobre a nossa própria formação tocamos também aquela que nos propomos fazer quando ministramos um workshop, pois aí também não se trata de ensinar formas ou fórmulas, quando pensamos sobre a formação que queremos proporcionar o fazemos a partir dos conceitos que desejamos expandir e aprofundar. Aqui começamos a refletir sobre o propósito deste projeto, as relações entre arte, pedagogia e política. O bom é que chegamos a isto a partir de nossa prática, como convém ao nosso modo de pensar, e não sobre uma "reflexão exclusivamente teórica" sobre os conceitos implícitos ao projeto que ora desenvolvemos.



2 comentários:

  1. queridos Andrea, Norberto, saudadeeees, que bom ter notícias, amei o vídeo, muito boa a cena das duas palomitas, com as cadeiras e o espaço acústico de que tanto fala o Norberto,morri de rir, curti muito ver as cenas vivas, tipo assim, fresquinhas, obrigado por compartilhar com a gente, boa trip e bons novos encontros. Abraços quentes do Rio, tbém a los hermanos de aí. bjo lu

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  2. Queridos, li todos os relatos e sei bem como é tudo isso! Sei como são 5 horas de trabalho e como é lindo quando estamos felizes fazendo isso.
    Espaço lindo que estão trabalhando. Um grande abraço e boas coisas aí!

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