segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

14 de fevereiro de 2011, em trânsito de Berlim para Oldenburg, finalizando Zakinthos.


Na Grécia, passamos dois dias por Atenas para chegar à ilha de Zakinthos, onde desenvolvemos o projeto em parceria com a brasileira Lis Nobre, do Ambrosia Theater. Residindo na ilha há dois anos ela tomou conhecimento do projeto e arregaçou as mangas para que nós desviássemos nosso caminho até lá. Pretendíamos realizar o workshop e a apresentação do “Quando Crescer, Eu Quero Ser...”, mas a apresentação ficou pra nossa próxima visita (ou seja, pra continuidade do projeto, segundo os nossos desejos). Realizamos apenas o workshop, para um grupo de 11 pessoas, bastante heterogêneo, que nos obrigou a estar bastante atentos na sistematização da proposta. Outro fator que nos exigiu atenção e objetividade na orientação do trabalho foi a língua, porque ministramos o curso entre o inglês, o grego e o italiano. Esses dois fatores exigiram de nós um olhar muito voltado para a questão pedagógica que acabou alimentando uma discussão bastante política a respeito da produção artística, o que nos fez tomar consciência de como estes três aspectos estão profundamente relacionados no nosso trabalho.
Pedagogicamente os exercícios propostos a partir da coluna vertebral tiveram que ser ministrados com minúcia e divididos em partes. Geralmente, quando trabalhamos com atores e/ou bailarinos, este exercício é aplicado com mais continuidade, pois abordamos conceitos que, em geral, fazem parte do vocabulário dos profissionais. Este detalhamento ajudou-nos a perceber mais de perto a dimensão pedagógica do trabalho que vimos realizando, o que se confirmou na reunião que o grupo generosamente se propôs a fazer dois dias depois de finalizado o workshop para nos dar um feedback.
Politicamente a realização do projeto em Zakinthos marcou o início do desenvolvimento das idéias bastante bem situadas de Lis. A atriz/palhaça tem bastante consciência das limitações da produção artística nas artes cênicas, não apenas na ilha, mas em todo o território grego. Ela compreende que para dar continuidade ao trabalho que já vem fazendo precisa contribuir para a ampliar a percepção sobre as diferentes formas que as artes cênicas (circo, teatro ou dança) podem assumir e ficamos felizes de poder contribuir com o início daquilo que nos pareceu um projeto mais ousado por parte dela. No decorrer do desenvolvimento do “Arte-Pedagogia-Política” vamos buscando meios de dar continuidade a esta parceria.
Artisticamente ficou o enorme desejo de compartilhar nossos espetáculos com o público grego. A proposta do workshop despertou a curiosidade dos participantes sobre a “aplicação” em cena dos conceitos abordados. Particularmente, como orientadores do processo, acreditamos que a vivência artística sempre contribui com a desmistificação dos conceitos.
Em Berlim (saindo de Atenas à caminho de Oldenburg), dialogando com Lambert Blum[1], ele nos questionou sobre como compreendíamos a dimensão política do projeto. Perguntou ele: “Mas o que é o ‘político’ neste projeto?”. Esclarecemos que compreendemos a dimensão política do projeto sob os seguintes aspectos: 1) das políticas culturais (buscamos compreender em linhas gerais como funciona, ou não, a política cultural nos países que estamos visitando para posteriormente conversarmos com eles sobre como esta política está funcionando no Brasil); 2) como as companhias ou artistas identificam sua ação política, no que produzem, no que pensam, no que podem interferir ou como são atravessados pela situação político cultural (como o exemplo de nossa amiga brasileira na Grécia, que a seu modo está buscando intervir consequentemente na cultura local); 3) como a dimensão política local transforma as performances artísticas ao mesmo tempo em que esta é transformada pelas circunstâncias que a circundam, apresentar o “Quando Crescer...” na Grécia, na Alemanha ou na comunidade quilombola de Santa Rita do Bracuí (em Angra dos Reis), por exemplo, transforma a performance e a constrói nestes contatos.
Aos poucos vamos nos dando conta de que estamos falando de uma atuação artística que é inseparável de suas dimensões artística e pedagógica.


[1] Lambert é teórico teatral, especializado na biomecânica de Meierhold, e dirigiu três espetáculos de Norberto.




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